{"id":1854,"date":"2020-04-06T14:45:39","date_gmt":"2020-04-06T13:45:39","guid":{"rendered":"http:\/\/www.inodev.pt\/?p=1854"},"modified":"2020-10-19T10:33:40","modified_gmt":"2020-10-19T09:33:40","slug":"inovacao-tempos-crise","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.inodev.pt\/en\/inovacao-tempos-crise\/","title":{"rendered":"Inova\u00e7\u00e3o em tempos de crise"},"content":{"rendered":"
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No curto espa\u00e7o de tempo que designamos como a hist\u00f3ria da civiliza\u00e7\u00e3o humana, muitos dos grandes saltos civilizacionais, progressos e inova\u00e7\u00f5es foram consequ\u00eancias da necessidade humana de se reinventar, necessidade esta muitas vezes catalisada por crises e dificuldades. Fossem elas fome, guerra, crises econ\u00f3micas ou doen\u00e7a, o Homem e a civiliza\u00e7\u00e3o como um todo parecem prosperar sempre que os tempos s\u00e3o mais sombrios. Encontramos explica\u00e7\u00e3o para isto na Natureza, de que tantas vezes nos parecemos querer separar e elevar, mas \u00e0 qual estamos imperativamente ligados. Darwin<\/em> ensina-nos que nunca foi o animal mais forte, mais r\u00e1pido ou maior que sobrevive, mas sim o que melhor se adapta ao seu meio. \u00c9 aqui que reside o engenho dos Homens, que o usam para se adaptar aos mais diversos meios, tempos, \u00e9pocas e diferentes contextos que enfrent\u00e1mos e enfrentamos atualmente. O g\u00e9nio dos Homens parece traduzir-se pela sua capacidade de adapta\u00e7\u00e3o, que in\u00fameras vezes ocorre atrav\u00e9s da inova\u00e7\u00e3o.<\/p>\n N\u00e3o havendo a necessidade de recuar muito no tempo, viajemos at\u00e9 ao s\u00e9culo passado e avancemos at\u00e9 aos dias de hoje. O s\u00e9culo XX foi um s\u00e9culo de progresso, tanto social como tecnol\u00f3gico, tendo havido uma inova\u00e7\u00e3o sem precedentes em toda a nossa hist\u00f3ria moderna. Encontramos v\u00e1rias raz\u00f5es para que isto tenha acontecido, sendo a maior delas a necessidade. Desde o crescimento populacional a inova\u00e7\u00f5es que tornavam as dist\u00e2ncias geogr\u00e1ficas cada vez mais insignificantes, o s\u00e9culo XX foi tamb\u00e9m um s\u00e9culo com uma hist\u00f3ria atribulada, com eventos e crises de propor\u00e7\u00f5es mundiais, algo que jamais tinha acontecido. Comecemos no ano de 1914, nos \u00faltimos dias do m\u00eas de julho, quando come\u00e7ou a primeira guerra mundial. Durante quatro longos anos transformou a Europa, \u00c1frica, \u00c1sia e at\u00e9 ilhas do Pac\u00edfico em campos de batalha, que levariam \u00e0 morte, direta ou indiretamente, de cerca de 30 a 110 milh\u00f5es de pessoas, desde o seu in\u00edcio at\u00e9 1920. Neste momento t\u00e3o negro da nossa hist\u00f3ria muitos foram os progressos e inova\u00e7\u00f5es alcan\u00e7ados, n\u00e3o s\u00f3 de instrumentos e armas de guerra, mas tamb\u00e9m inven\u00e7\u00f5es e inova\u00e7\u00f5es ainda hoje usadas, ou que levaram ao aparecimento de objetos e tecnologias que damos, hoje, como garantidos.<\/p>\n Desenvolveu-se o controlo a\u00e9reo, incentivado pelo enorme n\u00famero de avi\u00f5es que nesta \u00e9poca assolavam os c\u00e9us, 15 anos depois de terem sido inventados pelos irm\u00e3os Wright<\/em>. Inventou-se o hidrofone, que mais tarde viria a dar origem ao sonar, um microfone que funcionava debaixo de \u00e1gua e que originalmente tinha sido imaginado aquando do desastre do Titanic<\/em>. Desenvolveu-se a gabardine, n\u00e3o tanto por uma quest\u00e3o de estilo ou est\u00e9tica, mas por ser uma pe\u00e7a de roupa muito pr\u00e1tica nas lamacentas e chuvosas trincheiras espalhadas pela Europa, e, entre tantas outras inven\u00e7\u00f5es e inova\u00e7\u00f5es, inventou-se a tecnologia que originou dois objetos que hoje encontramos em qualquer supermercado: os len\u00e7os kleenex<\/em> e os pensos higi\u00e9nicos.<\/p>\n Uma d\u00e9cada mais tarde veio a grande depress\u00e3o que, em 1933, deixaria um quarto da popula\u00e7\u00e3o Mundial ativa no desemprego. Numa altura em que a fome enchia os lares e inundava as ruas de pessoas desesperadamente \u00e0 procura de trabalho surgiram inova\u00e7\u00f5es que ainda hoje perduram: inventaram-se os tamp\u00f5es femininos, a receita de bolachas com pepitas de chocolate (as t\u00e3o conhecidas chocolate chip cookies<\/em>), criou-se a marca Motorola que, pela primeira vez, produzia telefonias para serem implementadas em carros e patenteou-se, pela primeira vez, as m\u00e1quinas de barbear el\u00e9tricas. Tamb\u00e9m desta crise do sistema financeiro viria a ser criado o jogo de tabuleiro mais conhecido em todo o mundo, o Monop\u00f3lio.<\/p>\n Com o recuperar das economias mundiais poucos anos passaram at\u00e9 que o mundo ca\u00edsse, uma vez mais, numa guerra destrutiva e impiedosa \u2013 a segunda guerra mundial \u2013 que come\u00e7ara em 1939. Aqui, como esfor\u00e7os de guerra, desenvolveu-se o sonar \u2013 melhorando tecnologia inventada umas d\u00e9cadas antes \u2013 e que levou ao mapeamento do fundo do mar pela primeira vez, levando ao desenvolvimento e aprofundamento de conhecimento nunca antes conseguido. Desenvolveu-se o radar, ainda hoje usado em aeroportos ou nas m\u00e1quinas de controlo de velocidade que a tantas multas d\u00e3o origem. Inventou-se a borracha e o \u00f3leo sint\u00e9tico, que hoje encontramos nos carros quando passeamos na rua, os helic\u00f3pteros que agora sobrevoam as grandes metr\u00f3poles em passeios tur\u00edsticos e criou-se (ainda que levasse 20 anos a serem popularizadas) as primeiras m\u00e1quinas de multibanco. Apareceu a televis\u00e3o a cores, testaram-se e provaram-se os benef\u00edcios da descoberta feita por Flemming<\/em> uns anos antes que levou \u00e0 cria\u00e7\u00e3o do primeiro antibi\u00f3tico, a penicilina, e criaram-se os sprays aerossol, que pelos seus malef\u00edcios ambientais ca\u00edram em desuso nos tempos que correm. Mas n\u00e3o foi s\u00f3 a tecnologia que foi desenvolvida e inovada: pela primeira vez viram-se mulheres a terem empregos, muitos deles trabalhos pesados em ind\u00fastria, n\u00e3o s\u00f3 pela necessidade de m\u00e3o de obra, mas tamb\u00e9m pela vontade de participar e ajudar, fen\u00f3meno que levou \u00e0 emancipa\u00e7\u00e3o das mulheres, um ponto important\u00edssimo de mudan\u00e7a na hist\u00f3ria moderna da sociedade.<\/p>\n Com a guerra terminada e com o Mundo dividido em dois pelas superpot\u00eancias emergentes da guerra, olh\u00e1mos para os c\u00e9us e para as estrelas e apress\u00e1mo-nos a chegar l\u00e1. Em 67 anos pass\u00e1mos de voar a baixa altitude no primeiro avi\u00e3o motorizado a pisar a superf\u00edcie lunar, tudo isto entre guerras, doen\u00e7as, fome e crises econ\u00f3micas. O que eram televis\u00f5es enormes a cores s\u00e3o hoje aparelhos altamente tecnol\u00f3gicos e fin\u00edssimos, presentes em todas as casas do mundo moderno. O que eram antes meios de comunica\u00e7\u00e3o excecionalmente avan\u00e7ados hoje s\u00e3o mem\u00f3rias de um passado recente, substitu\u00eddas por um objeto que nos cabe no bolso e que em meros segundos nos p\u00f5e-nos em contacto com qualquer pessoa que esteja do outro lado do planeta. O que antes era tecnologia de ponta exclusiva para uso militar ou de muitos poucos, hoje \u00e9 banal e popular por tudo o Mundo.<\/p>\n Pode ent\u00e3o uma crise ser um catalisador para a inova\u00e7\u00e3o? Claro que sim, e os exemplos dados provam isso mesmo. Mas n\u00e3o acreditemos que a inova\u00e7\u00e3o \u00e9 exclusiva em tempos de crise, porque n\u00e3o o \u00e9. Na verdade, \u00e9 sabido que grandes empresas est\u00e3o, muitas vezes, a par de inova\u00e7\u00f5es disruptivas, mas o seu contexto empresarial n\u00e3o as permite perseguir estas inova\u00e7\u00f5es, seja por n\u00e3o ser lucrativo numa fase inicial, seja por n\u00e3o quererem gastar recursos preciosos para competir no mercado. O valor dado por estas empresas j\u00e1 estabelecidas a este tipo de inova\u00e7\u00e3o, que \u00e9 disruptiva do mercado, n\u00e3o \u00e9 grande o suficiente para investirem nela, optando muitas vezes por investir em inova\u00e7\u00e3o sustentada atrav\u00e9s da melhoria dos seus produtos. Aqui surge o dilema do inovador: apostar em inova\u00e7\u00f5es disruptivas que a curto-prazo s\u00e3o mais dif\u00edceis de vingar e implementar no mercado mas que a longo-prazo se podem tornam em inova\u00e7\u00f5es importantes, ou investir em produtos j\u00e1 existentes, melhorando-os \u00e0 medida que v\u00e3o sendo testados e usados pelos seus utilizadores. Um bom exemplo \u00e9 a multinacional gigante de aluguer de filmes Blockbuster<\/em>, que incapaz de valorizar um ent\u00e3o nicho de mercado no servi\u00e7o de aluguer de v\u00eddeos ao domicilio, idealizado por uma start-up<\/em> chamada Netflix<\/em>, optou por n\u00e3o investir na empresa que mais tarde veio a popularizar o servi\u00e7o de streaming<\/em>, que<\/em> hoje est\u00e1 presente em quase todas as casas do mundo moderno e que levou ao desaparecimento de todas as lojas f\u00edsicas de aluguer de filmes.<\/p>\n Talvez por tudo isto, nos dias de hoje, tantas inova\u00e7\u00f5es que tiveram origens em crises continuem presentes nas nossas vidas. Uma crise define-se como um evento disruptivo com implica\u00e7\u00f5es sociais, tecnol\u00f3gicas e econ\u00f3micas o que obriga a sociedade, como um todo, a pensar \u201cfora-da-caixa\u201d, a inovar de forma disruptiva, sem pensar de forma sustentada e limitada pelos par\u00e2metros dos mercados. Mesmo hoje, no dia em que em que escrevo este texto, em que estamos todos confinados \u00e0s nossas casas, em que vemos a sociedade a reagir a uma crise despoletada pelo Covid-19, <\/em>vejo, todos os dias, neg\u00f3cios que se reinventam para dar resposta ao que est\u00e1 a acontecer, que adotam estrat\u00e9gias novas para se manterem relevantes e ativas nestes tempos de quarentena e que, possivelmente, n\u00e3o adotariam estas estrat\u00e9gias inovadoras caso o mercado, a sociedade, e a circunst\u00e2ncia n\u00e3o tivessem sido afetados por esta crise de sa\u00fade com escala global. Como em todas as outras crises que precederam esta, tenho a certeza de que sairemos destes tempos dif\u00edceis mais fortes, e, acima de tudo, com um maior sentido de inova\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Mantenham-se seguros e pensem fora-da-caixa.<\/b><\/p>\n <\/p>\n <\/p><\/div>\n\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/section>\n\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/div>","protected":false},"excerpt":{"rendered":" No curto espa\u00e7o de tempo que designamos como a hist\u00f3ria da civiliza\u00e7\u00e3o humana, muitos dos grandes saltos civilizacionais, progressos e inova\u00e7\u00f5es foram consequ\u00eancias da necessidade humana de se reinventar, necessidade esta muitas vezes catalisada por crises e dificuldades. 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